segunda-feira, 24 de novembro de 2008

EDUCANDO UMA PROSTITUTA

Eu gostaria de replicar uma história veridica que ouvi no programa Mais SP, da CBN , sobre uma professora que treinou uma garota para ser prostituta. Os treinamentos, porém, não envolviam sexo, mas um estímulo para investir em si própria - já que seria impossível para a garota sair daquela vida.

A educadora Dagmar Garroux, da Ong Casa do Zezinho, descobriu que uma das alunas da casa estava vendendo o corpo, agenciada por um rapaz mais velho da escola pública em que estudava. Dividiam pela metade o valor de cada programa (R$ 10). A professora questionou a moça porque fazia aquilo, mas a garota não gostou da intromissão. "Não se mete, não. Você nunca pensou em se vender para ganhar dinheiro?", perguntou, agressiva. Ela era conhecida pela violência, metia-se em brigas. Quase sempre andava com uma faca. Dagmar suspeitou de que corria o risco de perder a aluna, desfeito o já frágil laço afetivo. Decidiu entrar no jogo. Disse que nunca quis vender o corpo. Mas, se quisesse, não iria aceitar mixaria. "Eu iria cobrar no mínimo R$ 1.000. Isso no começo, depois aumentaria o preço." A aluna arregalou os olhos e ouviu a improvável proposta: "Por que você não se prepara para ser puta em Brasília? Você ganha dinheiro e se aposenta".

No dia seguinte, a garota voltou, animada com a proposta. "Topo", disse. Dagmar ponderou que ela deveria, então, se preparar. Para começo de conversa, deveria se cuidar para que aumentasse a disputa dos clientes. Precisaria, assim, parar imediatamente de estragar seu corpo com os homens da favela. "Você quer chegar a Brasília com a mercadoria velha?" Dagmar convenceu-a de que, além do corpo atraente, precisaria mostrar cultura e saber falar. Um tanto a contragosto, mas de olho nas recompensas futuras, aceitou as aulas. Com as aulas, vieram reflexões sobre autonomia e responsabilidade; a auto-estima era trabalhada em projetos de arte e comunicação. Certo dia, ela fez um comentário sobre os dentes de Dagmar. "Parece que você tem uma boca de cavalo." E brincou: "Se eu fosse dentista, eu consertaria a sua boca".

Como era inteligente, a menina prosperava cada vez mais rapidamente na escola. À medida que ficava mais velha, prestava mais atenção no que acontecia em sua comunidade com quem se envolvia com as drogas e a prostituição. Ela chegou a concluir o ensino médio e suspeitou que talvez pudesse prosseguir. Por motivos óbvios, o nome da aluna não é revelado: "Ainda sinto muita vergonha", justifica ela. Fez um cursinho pré-vestibular gratuito e entrou na USP.

O treino funcionou tão bem que Brasília perdeu uma prostituta. A garota formou-se em odontologia e agora vive consertando bocas.




PS: Esse caso está no livro "A Pedagogia do Cuidado", de Celso Antunes, junto com outros exemplos que provam como é possível ensinar os encantos da possibilidade.

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